Os tempos que passaram

Entra ano, sai governo, pouco muda. Só aqui?, não, quem dera!

Cheias em Moçambique e no Brasil. Vazou o Zambeze e o Tietê, morreram e ficaram desalojados Marias e Josés. Da Silva, que os de sobrenome pomposo não embarcam em cheias...

Furacão nas Filipinas e na Indonésia, a tradicional fome pós-cheias no Bangladesh, bombas e mortos no Iraque.

Alagados de dor, criaturas que nascem só para cumprir o karma de morrer, ou assim parece.

Ellis cantava que caía a noite feito viaduto, os viadutos pararam de cair, creio, mas começaram a abrir-se buracos à superficie que engoliram gente que seguia de autocarro por ter medo de andar de metro. Morreram soterrados no buraco do metro, falem-me de ironias.

Por cá não houve cheias nem nevões; não caiu viaduto, só uma ponte, há uns anos, mas ninguém se incomodou muito. Caiu e acabou-se, morreram umas pessoas mas ninguém teve culpa, siga a fila.

Por cá há referendo. Maria e José talvez nem cheguem a ir votar no domingo. Os da Silva não se envolvem nas discussões pró ou contra o aborto, têm outras prioridades. Como alimentar os filhos que já nem conseguem desejar ou assim...

Os tempos que passaram continuam tão iguais aos que vão chegando que até parecem os mesmos. Só estão mais caros.