Trem da Morte

Para a Sinapse, porque ela ama os trens e pediu; por algum motivo que ignoro, o blogger não me permite desde ontem colocar fotos ( fecha os olhos, imagina, espero que as minhas plavras te levem feliz neste longo passeio)

Primeiro, é preciso chegar a Corumbá (supondo que seguirás todos os passos da minha aventura e partirás do Brasil, para fazer o trajecto completo), no Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia. Venhas de onde vieres, é longe comá gaita! Passa na farmácia e abastece-te de desinfectante para a água, comprimidos de alcatrão para a desinteria e cones descartáveis (permitem às meninas urinar de pé; confia em mim, vais precisar!).

Passas de táxi a fronteira até Porto Suarez, Bolívia (10 minutos), porque a ferrovia caiu em desuso e foi abandonada do lado brasileiro.

A ferrovia foi construida em 1950 e tem 1200km. Passou a chamar-se "trem da morte" porque a Bolívia sempre foi um país pobre e mal policiado e sempre ocorreram brigas e assaltos a bordo. Os traficantes também o usaram para escoar "pó" e há histórias de durante a epidemia de febre amarela (anos 60) ter sido usado para transporte de doentes que não sobreviviam à viagem.

O desconforto é total, só há o equivalente a 3ª classe para baixo... animais (galinhas, ovelhas, cabritos), gente que escarra no chão e urina nos cantos, vendedores que entram em todas as estações, calor.

Mas a paisagem é deslumbrante! Para chegares a La Paz, ainda Bolívia, tens que mudar para um autocarro e encarar 18 horas de viagem, porque os guerrilheiros explodiram túneis e trilhos e agora já não é possível prosseguir de trem.

La Paz possui ruínas que explicam a origem do povo inca e que os arqueólogos sugerem estar ligadas aos mitos da Atlantida.

Dali a umas 6 horas, Copacabana (Bolívia), porque tens absolutamente que conhecer o lago Titicaca, o maior do mundo, deslumbrante. Já estás a uma altura considerável e todos te oferecem mate de coca (sim, é chá do que pensas), para diminuir a pressão e o desconforto da altitude. Também podes mascar umas folhinhas da dita, caso estejas enjoada...é tão cultural como o chá de hortelã em Marrocos!, e igualmente legal.

E lá vais contente de autocarro até Puno (mais umas 5 horinhas, por aí), já no Peru, onde voltas a ter o trem para seguires até à parte mais bonita da viagem (10 horas até Cuzco); agora são picos nevados, rios, llamas, vales verdinhos.

Em Cuzco é imperdível a visita ao Vale Sagrado (para quem gosta das aventuras do Tintim, é lá que está o que resta do Templo do Sol).

A seguir, Machu Pichu (há quem escreva Machupicchu).

A cidade sagrada dos Incas, a única intocada pelos conquistadores espanhóis, descoberta há menos de 400 anos.

Um dia destes tenho que te contar sobre a cidade sagrada dos Filhos do Sol e seus templos de culto... dos rituais dos banhos de lua... do chá da meia noite...

Obs: fiz a minha viagem em 1982; disseram-me que agora já há uns trens melhores, mas até a 1ª classe continua ainda abaixo da crítica. Não sei se faria esta viagem outra vez, mas foi uma
aventura maravilhosa e inesquecível.