segunda-feira, junho 12, 2006

Fim de semana


A Casa da Avó Velhinha existe desde que ela não era avó, muito menos velhinha.

Era uma moça de talento, que desenhou e supervisionou pessoalmente a construção da casa que primeiro acolheu quatro flhos, depois os quatro filhos e oito netos e depois ainda, os quatro filhos, oito netos e seis bisnetos.

A casa é grande, como era o coração dela, mas não acolhe a descendência em simultâneo; a vida e as partihas fazem com que a Casa acolha geralmente um dos filhos, a nora, uma das netas e o marido, as duas bisnetas.

É tempo de panquecas com manteiga e mel ao pequeno almoço, com sumo de laranja espremido das laranjas colhidas ali mesmo, minutos antes; de sardinha assada acompanhada com as melhores batatas de sempre, salada de pimentos e tomates, com cebolas, salsa e coentros da horta.

Há coelhinhos castanhos recém-nascidos e dúzias de pintainhos amarelos, colhem-se os primeiros figos e ameixas Rainha Cláudia, os morangos e os abacates ainda estão verdes e as videiras estão carregadinhas.

Na entrada, quatro azaléias cor-de-rosa exalam o seu doce e intenso perfume de damas da noite e o terreiro parece a sede das Nações Unidas. Das Nações Unidas Lusófonas ou, mais precisamente, das Nações Unidas Lusófonas presentes no Mundial, pelo menos. O avô e o genro, portuguesíssimos, pespegaram duas bandeiras portuguesas, a avó reclama que tem um filho Angolano e lá está a bandeira correspondente e há ainda um neto brasileiro e uma filha do contra, logo a verde e amarela também dita por ali ordem e progresso.

As modernices ali não chegam: o telemóvel só recebe sinal num dos cantinhos da horta e a net caminhante não funciona de todo.

Tudo convida à preguiça: a rede esticada entre as laranjeiras, os banhos de mangueira, as crianças que fazem bolinhos de terra, o cheiro das flores, o campo de girassóis, a cama de lençóis fresquinhos... e o mar ali tão perto.

A Avó Velhinha, na sua proverbial generosidade e sabedoria, de onde estiver, supervisiona zelosa a devoção da família à casa a que todos voltam.

E o fim de semana só, não chega para matar as saudades...

22 Comments:

At 12/6/06 8:46 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Um texto com sabores e memória. Lindíssimo.

Beijinhos. Boa semana.

 
At 12/6/06 9:21 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Que fim de semana booooooooommmmmmm!!!
Dá vontade de nunca crescer e fazer uma paragem no tempo!!!

Que felicidade contagiante cara amiga!!

;)

Um jinho enorme a todos!

 
At 12/6/06 9:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Já percebi que matou algumas saudades e preguiçou um pouquinho.

Veio com força para mais uma mini semana de trabalho?

Nem sabe a falta que fez por cá!

Beijinhos.

 
At 12/6/06 9:35 da manhã, Blogger greentea said...

tb gosto dessa outra casa do avô aonde vamos sempre que possivel matar saudades dos cheiros, da tranquilidade , dos laços doces da familia, do remanso e dos bons sabores da horta que vai subsistindo...
o AVô , esse deixou-nos há algum tempo, por mudança de rumo , mas na contemplação dos seus 96 anos segue ainda todos os nossos trilhos

um beijo para ti. Naquela casa, as colchas das camas são antes de linho tecido pelas avós e bisavós de outrora, nos teares manuais, nas longas e gélidas noites de inverno.

 
At 12/6/06 10:07 da manhã, Blogger Angela said...

Aí que inveja boa!
deve ter sido delícia pura!
E que cama linda esta! bjs.

 
At 12/6/06 10:34 da manhã, Blogger Elisheba said...

Gostei muito. Beijocas

 
At 12/6/06 10:52 da manhã, Blogger Lídia Amorim said...

lindissimo... na casa da minha avó costumavamos trocar o banho de mangueira pelo banho de tanque enorme que havia no pátio. Um tanque que durante anos servia a população local e que depois se tornou a nossa gigante piscina.. agora já não vou lá tantas vezes..mas souve bem ler este texto, ao menos soube bem recordar... Será que as casas das avós são todas iguais??? Boa semana!

 
At 12/6/06 10:58 da manhã, Blogger Silver said...

Essa casa mais parece o Paraíso. Muito bonita. Bjinhes :)

 
At 12/6/06 11:10 da manhã, Blogger Mocho Falante said...

De repente fechei os olhos e recordei a cor das tampas da compota caseira, o cheiro do a rosmaninho nas gavetas e a bungavilias que cresciam em liberdade lá na casa da minha avé. O leite que chegava todos os dias e vasilhas e o pão que vinha de bicecleta por um padeiro que sempre parecia ter a mesma idade.

Adorei este texto, adorei o relato, adorei a recordação.

Bom Sto António

 
At 12/6/06 12:59 da tarde, Blogger Mónica Lice said...

Que curioso... também usava essa expressão: "a avó velhinha"!:)

 
At 12/6/06 1:45 da tarde, Blogger teresa.com said...

ainda ha paraisos na terra!

 
At 12/6/06 2:53 da tarde, Blogger Marta Vinhais said...

Que boas recordações!
Gostei muito do texto e da ternura escondida em cada palavra.
Obrigada
Beijos e abraços
Marta

 
At 12/6/06 3:34 da tarde, Blogger C_mim said...

Nada como as casinhas dos avós para descansar o corpo e as ideias despenteadas...

Próximo fim de semana volta lá...

 
At 12/6/06 3:43 da tarde, Blogger SIPO said...

Pelo que percebi esta 'avó-velhinha' só existe em espírito e legado, a minha Alice ainda está para as curvas com 81 anos ;)

 
At 12/6/06 6:22 da tarde, Blogger Folha de Chá said...

Mas que linda casa, mas que linda Avó. :) Que bom, tanta união e amizade. Que bom, um pequeno-almoço assim. :) Se tivesse uma Avó destas, provavelmente todos os fins-de-semana lá estava, na sua casa. :)

 
At 12/6/06 6:24 da tarde, Blogger Tia Cremilde said...

que inveja... que bom...! que vontade de não trabalhar!

 
At 12/6/06 8:51 da tarde, Blogger Tongzhi said...

Também fui bafejado pela sorte de ter uma "Avó Velhinha". A minha detestava que lhe chamássemos assim... mas era na brincadeira!

 
At 12/6/06 10:42 da tarde, Blogger papoilasaltitante said...

Como é bom lembrar a casa dos nossos avós. Por cá também havia uma avó velhinha!!!
bjs

 
At 12/6/06 10:57 da tarde, Blogger Pitucha said...

E recordar é viver!...
Beijos Azulita.

 
At 13/6/06 9:27 da manhã, Blogger Sinapse said...

Que doce evocação do passado revisitado! que texto bonito!




Beijinho,
Sinapse




(desculpa andar ausente dos comentários, mas o tempo tem sido entrecortado)

 
At 13/6/06 6:11 da tarde, Blogger Su. said...

Sem duvida provocas-te uma deliciosa sensação de bem estar, trazido por lembranças de mimos de ter avós, de recantos muito unicos, de cheiros e paladares que nos ficam pregados á pele até
á sempre.

Adoro girassois, e lençóis fresquinhos, e o mar sempre perto!

 
At 16/2/07 4:54 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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