Culto da Personalidade

A propósito de um post lido hoje em http://espumadamente.blogspot.com

Ainda andava na faculdade e morava no Brasil, numa cidade onde há um Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Uma prima minha foi passar um ano connosco e estava a cabar um curso na Alliance Française. Tinha dois colegas iraquianos, que estavam no Brasil, no tal Centro Aeroespacial em missão representativa do seu país.

Naquela época os americanos ainda não achavam que o Iraque fazia parte do Eixo do Mal, o Brasil fornecia armas e tecnologia ao Iraque e era o tempo da Guerra Irão x Iraque, em que torcíamos todos pelo Saddam. Adiante.

Os colegas da minha prima eram ambos engenheiros, muito cultos e educados, falavam inglês fluente, safavam-se em português e arranhavam francês. Sentiam muitas saudades de casa, da comida, dos amigos. Iam comer pizza connosco e escolhiam sempre as que não tinham fiambre, porque não podiam comer carne de porco... mas não resistiam a acompanhá-la com vinho tinto!

Eram amorosos e rapidamente integraram o nosso grupo de amigos. Um dia convidaram-nos para irmos à festa de aniversário do seu amado presidente.

Nós fomos. Deram-nos uma autorização especial para entrar no CTA, fomos todos revistados e finalmente, muito aperaltados, lá entrámos no recinto da festa.

Era um festão! Tipo casamento, com montes de mesas de comes e bebes (nenhuma bebida alcoólica), doces maravilhosos com amêndoas, folhados e mel, mil coisas estranhas e misteriosas, comida Iraquiana.

Um enormíssimo retrato de Saddam Husseim pendurado na parede, para nos lembrar de quem era o aniversário que festejávamos. Música iraquiana, umas 200 pessoas a dançar e a comer, todos felizes.

Três tiros de pistola para o ar e surpresa... Um enorme bolo de 5 andares, cheio de velas acesas. Cantou-se a versão Happy Birthday do tradicional parabéns e tudo.

Lembro-me que não achei aquilo lá muito normal, uma festa sem o aniversariante presente.

Anos depois, Guerra do Golfo e Saddam já era o inimigo. Xiiiiiiii! E eu fui ao aniversário dele...

Esqueci-me de um detalhe: o Corão proibe, mas com o bolo serviram champagne francês. Legítimo.