sexta-feira, março 03, 2006

Para Maria


Elas carregam os filhos às costas e o mundo à cabeça.
São as mamanas da minha infância, excizadas, de pele chocolate e os dentes mais brancos do mundo.
Submissas e cheias de força, a trabalhar na roça, a parir sozinhas, a multiplicar afectos aos filhos dos patrões brancos.
"A mão que embala o berço, é a mão que governa o mundo."
Plantar a mandioca, colher e moer para fazer farinha, para cozinhar a ufa.
Desculpa , Maria. Chamava por ti assim, porque nunca consegui pronunciar o teu nome verdadeiro.
Mas sou, de certeza, uma pessoa melhor porque vi um pedacinho do mundo com os teus olhos, um dia.
Para Maria, que hoje , se a vida foi generosa, tem cabelos branquinhos e continua uma grande Mulher.

4 Comments:

At 3/3/06 3:54 da tarde, Blogger Folha de Chá said...

Não tive nenhuma Maria de pelede chocolate. Mas as Celinas e Madalenas do Minho muito me ajudaram. :) Beijinhos para elas.

 
At 3/3/06 8:11 da tarde, Blogger C_mim said...

A poesia pode ser:
Um desenho de aguarela,
Um brinquedo de favela,
Ou do menino que vive lá longe em Benguela.

Um papagaio de papel voando no céu
Da sua praia predilecta,
Aquela onde você constrói sonhos de areia,
Que o mar leva para longe,
como mensagens numa garrafa.

Uma dança de cindarela,
Mas que só dança sem chinela.
Boa poesia não tem enfeites,
Não precisa...

Por vezes poesia é
Um rabisco bem travesso
Que vira tudo do avesso.
Essa sim é da boa...
Deixa todo mundo meio à toa.

Poesia por vezes tem de ser,
Um prato de farinha amarela,
Ou arroz doce com sabor a canela,
O alimento dos que nada têm
E sonham com amor, afecto e carinho.


E por fim tem a poesia do seu pai e sua mãe:
Que é um segredo,
Um estado de alma,
Uma união,
É um entendimento que só eles entendem...
Não adianta querer explicar, nem perguntar como é...
Eles também não vão saber e vão explicar da forma que você já sabe:
Com um beijinho.

E de tudo isto,
Da quadra manhosa cheia de prosa,
Do soneto preto cheio de carrapeto,
Ou de linhas sem regras e harmonia,
Fica só o amor pela poesia,
De um pai por uma filha,
De uma mãe chorando de alegria,
De você, uma bênção da natureza
um sistema de vida.

Sofia d'Oliveira

 
At 3/3/06 8:54 da tarde, Blogger Mónica Lice said...

Sei de quem falas... de mulheres capazes de segurar os filhos às costas, ao mesmo tempo que equilibram alguidares à cabeça!

Conheço algumas "Marias", e vejo muitas mais... Reconheço-lhes a força com que vivem!

Beijinhos.

(P.S. - Muito obrigada pela visita, e pelas palavras, que me deixaram a mim sem palavras...:))

 
At 4/3/06 8:11 da manhã, Blogger 125_azul said...

Que lindo, Sofia Caracol! Adorei

 

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