sábado, janeiro 06, 2007

Celebração


"Há um menino, há um moleque dentro do coração do Sr. Azulão
Cada vez que o menino vacile, você, Azulita, lhe dê a mão"

Começou assim a cerimónia de celeração de um amor especial. Fez aniversário esta semana, mas não pode haver comemoração, há uma obra maior em espera...

"Quando os vossos corpos não conseguirem mais sentir aconchego e calor, é hora de descalçar os sapatos e ir passear na areia, de mãos dadas, deixando só o coração falar. Nunca interromper a caminhada, retomá-la a cada momento difícil, ainda com mais ardor. É assim o amor."

Tomando o pão, deu-o aos amantes, desejando que nunca faltasse à sua mesa; insistiu para que bebessem o vinho e o fizessem sempre para festejar e celebrar com os amigos; sal, lambido da palma da mão um do outro, para temperar as emoções e a luz forte de uma vela que lhes alumiasse sempre o caminho.

As alianças especiais, trocadas com votos ditos espontaneamente, de lágrimas nos olhos; sandálias nos pés, roupas brancas, entrançados de palha e flores nos cabelos, girassóis nas mãos, Cristo Redentor de um lado, águas da Guanabara de outro. Até a chuva deu uma trégua e só voltou no fim da cerimónia.

O olhar atento e azul da nossa Dinda quando jogámos os entrançados do cabelo à água para Iemanjá abençoar...

O almoço maravilhoso, os amigos certos.

Cliquem para ouvir a música que está no blog: canta Lhuli, com letra composta por nós, gravada num CD presente musical: é a Canção para ouvir em Rosa, banda sonora que descreve e homenageia o Sr. Azulão. Porque ele merece, é tudo isso e mais e neste momento está em casa a fazer franguinho com esparguete para as manas do Miguel, de quem tem que cuidar sozinho enquanto dias melhores não vêm...

Desculpem a mariquice. No cativeiro activamos com frequência o banco de memórias felizes, para não custar tanto.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Mensagens do Cativeiro


A vida mede-se em emoções diárias inesgotáveis, aqui dentro.

Tenho a sorte de ter a cama com vista sobre a cidade, a mais afastada das duas televisões que debitam TVI e SIC, non stop das 7h00 às 24h00, o que é uma benção, já que de onde estou não consigo ver nem ouvir nada.

Ás 6h30 o dia começa com um emocionante "bom dia, vamos fazer xixi para a fitinha?", seguido da fila ordenada de barrigudas vestidas de saco de farinha, chinelos vários números acima do desejável para cada pé, a caminho do WC, fitinha na mão. Depois é esperar com ansiedade que não dê cruzes, quando se mostra a fitinha à Sra. Enfermeira (apesar de ninguém saber exactamente porque é que não pode dar nem uma cruz...).

Segue-se a disputa pela box para o duche, que tem uma cadeirinha com buraco para encaixar o traseiro e tomar banho estilo Cleópatra.

Pequeno almoço, médico e internos à volta, equipa sempre diferente, vá de repetir a nossa história sempre igual, e tome espetadela, só mais uma análise a não sei o quê, uma injecção para não sei o que mais, mais aparelhos, procedimentos técnicos e almoço. O emocionante que é comer rissóis de peixe com "arroz alegre" (sabem o que é arroz alegre?, vem assim na ementa, suspeito que seja uma alegria para o arroz que ninguém seja capaz de o comer...)!

Mais espeta daqui e vira de acolá, hora da visita, hora do lanche, mais medicação, hora do jantar, Floribella e congénere da TVI, mais um exame, mais uma medida da tensão, mais medicação, hora da ceia...

A hora da medida da tensão, num quarto só para hipertensas, é particularmente animada: todas têm uma técnica para a "coisa" correr bem e o resultado dar mais baixo (estilo bora lixar a máquina), mas acho que se enervam tanto com as técnicas que aquilo acaba por não resultar. Para umas é dar o braço direito, virar de lado, ficar de costas... é lixado, não resulta e acabou-se.

A minha técnica consiste em fingir que estou em Paraty, a mergulhar nas águas quentinhas, a fotografar o fundo do mar, a comer açaí com granola no boteco da praça... Também não resulta, mas é bom lembrar...!

Nem vos conto a história de um exame que consiste em colher urina para um jarro durante 24h00 e que ia terminando em homicídio. Eu ia assassinando uma chinesa (ou japonesa, a criaturinha de olhos amendoados e barrigão imenso não falou, só sorriu, balançou muito a cabeça e passou à minha frente na fila para o WC, quando eu estava quase, quase a transbordar, de jarro na mão. Indecente! Foi por um triz que não lhe atirei o jarro à mona oriental!

Vocês, em pleno uso do direito de ir e vir, façam coisas emocionantes: vão visitar a sogra, passem a tarde nos saldos, adoptem um sem-abrigo, votem num referendo qualquer, assistam a Floribella. Vivam, façam o favor de ser muito felizes.

Isto ainda vai durar uns tempinhos, mas quando acabar, aguardem-me!