Dia da Criança
Aconteceu há uns dias. Achei delicioso e corri a escrever porque não queria esquecer nenhum detalhe, imaginando oferecer-vos hoje, Dia da Criança.
Com o desejo de que a criança que há em todos sinta muito orgulho do adulto em que nos torná-mos; o desejo de que todas as crianças pudessem, nem que fosse só hoje, gargalhar felizes, depositar os seus sonhos em adultos confiáveis, crescer em paz. Ser aconchegadas quando se vão deitar, com a barriga quentinha dentro do pijaminha fresco e lavado e os cabelos cheirosos espalhados no travesseiro macio...
Tenho então para vos oferecer mais uma "definição definitiva". Este post está a ser feito com o coração inundado de gratidão e ternura por todas as crianças especiais que em mim habitaram, por mim passaram, em mim permanecem. E é para todos os adultos que ao lerem, sorrirem.
Dia Feliz!
METAMORFOSE
Começou a época em que todas as crianças querem ter lagartas de bicho-da-seda. É vê-las à porta da Escola, com caixas com 5 ou 6 lagartinhas gosmentas e um monte de folhinhas de amoreira para alimentar as monstrinhas que não fazem mais nada senão comer, comer, comer.
A Ana, 10 anos, também resolveu ter lagartinhas. Pediu permissão, trouxe a caixinha para casa (valhamedeus, onde vou achar folhas para alimentar estas bichinhas?, serve couve???), ar superior e sobrancelha franzida, "Nãaaao, claro que couve não serve" (ela não diz "dahhhh", senão fica 3 dias sem sobremesa, mas eu vi o "dahhhh" a piscar nos seus olhinhos...).
6 lagartinhas na caixinha e 4 folhinhas, valhamedeus (entro sempre em surto religioso nestas alturas de aflição) isto não chega para nada!, e a promessa, o Vasco amanhã traz mais folhas ele tem, não há problema (dahhhhhh).
Mas a Ana ficou com amigdalite e não pôde ir à Escola 2 dias...
Cama, febrão, ninguém se lembrou mais das lagartinhas, das folhinhas, era só antibiótico e xarope e suminho e sopinha...
No terceiro dia, melhor, volta à Escola. Heroicamente o Vasco leva e traz folhinhas todos estes dias, preocupado com as lagartinhas da Ana.
Vou buscá-la e ela lá vem, saquinho de folhas em punho, depressa, vamos alimentar as bichinhas. Lá vamos nós (pelamordedeus, elas já se devem ter finado, e agora?)...
A Inês, 5 anos, a leste de tudo, pergunta para que quer ela as lagartinhas. Paciente a grande explica à pequenina o que é metamorfose, as lagartinhas comedoras de folhinhas (menos de couve, dahhhh), fazem um casulo, saem do casulo e já não são lagartinhas. Porque a metamorfose é a transformação de lagartas em tchaaaaaran!, borboletas.
Inês quer ver, pede para ela abrir a caixa. Eu, em surto, rezo!
Ana com a mão em cima da tampa, exige solene: abro se repetires comigo, quero ver se aprendeste. Vá, diz lá: Metamorfose é a transformação de lagartas...
(abre a caixa; um mirrado casulo amarelo a um canto, 5 lagartinhas magras, imóveis, de patas para o ar, espalhadas). Pânico!!!
Inês ainda mais solene, triunfante e definitiva: Eu sei! Metamorfose é a transformação de lagartas vivas em lagartas cadáver!
PS: Sou mãe e se me fôr exigido que avalie os professores, até ao momento, só tenho a dizer que estou grata e feliz por nunca, nenhum deles, ter aprisionado o espírito destas meninas. Passam com eles quase mais tempo que comigo e cada uma, à sua maneira, sabe coisas maravilhosas e importantes, que eles ensinaram, como metamorfose. É importante. Há ministros que não sabem...